O conto é um trabalho de ficção em que se relata uma série de acontecimentos envolvendo personagens, elementos e ambientes, e que possui um clímax e um desfecho.
Uma característica natural do conto é o seu tamanho pequeno e a consequente simplificação de sua estrutura.
A estrutura do conto está descrita abaixo:
Introdução
É o início da história a ser contada. Nesta ocasião o narrador expõe os acontecimentos iniciais, os personagens, o tempo e o cenário.
Desenvolvimento
É a parte em que se constrói o conflito. O conflito é a ocasião em que alguma coisa começa a ocorrer, criando no leitor um estado de ansiedade pelo que ainda virá a ser apresentado.
Clímax
É o ponto alto da narrativa, no qual tudo pode acontecer. Na verdade é o que dá sentido à existência da história.
Conclusão
Representa o final da história e contém a solução do conflito.
Narrador
Em torno de um conto existe um autor, um leitor e um narrador, sendo este último a entidade utilizada pelo autor para exibir o conto.
O autor e o leitor habitam o mundo real. A função do autor é criar o universo do conto, com seus cenários, personagens e eventos constituintes. A função do leitor é captar o conto e interpretá-lo.
O narrador habita somente o mundo do conto.
Existe a tentação de olhar para o autor e o narrador como se fossem a mesma pessoa. Mas na realidade são entidades distintas.
Estabelece-se esta distinção porque existe a possibilidade de o ponto de vista expresso na narração ser diferente do ponto de vista na vida real. Nesse caso, é como se o criador do conto assumisse um papel especial, concebido com o único propósito de narrá-lo.
Por este motivo, a entidade que narra às vezes pode até possuir a mesma natureza dos personagens. O que a torna especial é a sua função de contar os acontecimentos, enquanto os demais personagens apenas vivem esses acontecimentos. Evidentemente, sendo um tipo de personagem, a entidade que narra pode também participar dos acontecimentos, dependendo do ponto de vista narrativo (foco narrativo).
Foco narrativo
O foco narrativo é o ponto de vista do narrador sobre os acontecimentos do conto. Este ponto de vista do narrador é determinado por sua posição em relação aos acontecimentos.
É preciso considerar que o narrador é uma entidade utilizada pelo autor para relatar os fatos do conto. Assim, o narrador pode apresentar um ângulo de visão bem definido sobre o conto. As possibilidades de foco narrativo sobre o conto são as seguintes:
Foco narrativo de 1ª pessoa
Nesta modalidade o narrador é um personagem.
- Narrador personagem: O protagonista (personagem principal) é o narrador.
- Narrador testemunha: Um coadjuvante (personagem secundário) é o narrador, e conta a história vivida pelo protagonista.
Foco narrativo de 3ª pessoa
Nesta modalidade o narrador não é um personagem.
- Narrador observador: O narrador apenas acompanha e relata os acontecimentos do conto, limitando-se a revelar aquilo que é possível ser constatado com a observação.
- Narrador onisciente: O narrador sabe tudo sobre o conto. Pode revelar o que se passa na mente dos personagens, informar coisas que ainda vão acontecer no conto, etc.
Narrador observador
O narrador observador é o tipo mais frequentemente utilizado pelos autores em suas obras literárias.
Para narrar o conto, o narrador, atuando como observador, baseia-se no que é possível ser percebido humanamente com a observação. Mesmo não atuando no conto como um personagem, o narrador se sujeita às mesmas limitações de percepção que um personagem teria dentro do conto.
Nestas condições, por questão de coerência, o narrador que observa não deve demonstrar saber o que se passa na mente dos personagens, as coisas que ainda vão acontecer no conto, e outros poderes característicos de um narrador onisciente.
Narrador onisciente
Há vários tipos de narrador onisciente.
Narrador onisciente intruso
Este tipo de narrador tem a liberdade de se posicionar onde bem entender ao longo do conto, narrando-o no modo que preferir. Com tal liberdade, o narrador atua como se fosse Deus, alterando e utilizando diversos meios de transmissão de informações e estabelecendo seus conceitos e pontos de vista.
O narrador pode revelar minuciosamente particularidades do conto e expor constantemente comentários no meio da narrativa (daí o adjetivo “intruso”).
Estes comentários podem ser considerações filosóficas sobre a vida, ou simplesmente comentários sobre atitudes, caracteres e outras coisas que de alguma forma têm a ver com o conto.
Narrador onisciente neutro
O narrador pode revelar minuciosamente particularidades do conto, mas não expressa opiniões sobre isso. Ele deixa o leitor tirar suas próprias conclusões sobre aquilo que é revelado.
Portanto, a característica fundamental deste tipo de narrador é a imparcialidade.
Pode-se imaginar então que nesta narração não pode haver reflexões sobre a vida, nem quaisquer concepções e visões.
Narrador onisciente múltiplo
Este tipo de narrador é caracterizado pelo discurso indireto livre. Por meio desta técnica, o narrador pode integrar em seu próprio discurso o que os personagens falam. Não há sinais que delimitem o que é a narração e o que é a fala de um personagem.
O discurso indireto livre serve também para demonstrar que o narrador é onisciente sobre tudo o que os personagens falam, sentem, reagem e pensam.
Discurso direto e indireto
Em um texto narrativo, o autor se expressa através do narrador. Por meio dele, o leitor conhece o desenvolvimento do conto e os atos dos personagens.
Porém, é através da voz dos personagens que o leitor toma conhecimento do que se passa nas mentes deles.
A maneira como a voz dos personagens é apresentada pelo narrador é chamada de discurso.
Há duas formas mais frequentes de discurso que podem ser apresentadas na narração: o discurso direto e indireto.
Há ainda uma terceira forma, denominada discurso indireto livre, que é o resultado da mistura dos dois discursos anteriores, conferindo à narração um estilo mais dinâmico.
Falando de discurso direto e indireto, a diferença entre um e outro está fundamentalmente na presença ou ausência de diálogo.
Exemplo:
Paulo olhou para o caminhão saindo da garagem e perguntou:
- Para onde esse caminhão vai?
- Ele vai a onde ele vai!
Como se pode ver, no discurso direto a narrativa é
interrompida para dar lugar a uma fala de personagem.
Geralmente a fala do personagem é precedida por
verbos de elocução, seguidos de dois pontos. No exemplo acima, a expressão
usada é “... perguntou:”.
A fala do personagem costuma ser precedida por um
travessão “-”. No entanto, pode-se usar aspas para delimitar a fala do
personagem no meio da narrativa.
Exemplo:
Maria olhou para o Herbie e disse: “Para onde esse
Fusca vai?”.
Discurso indireto
O discurso indireto ocorre quando o narrador expressa com sua própria narração o que o personagem diz.
Exemplo:
Paulo olhou para o caminhão saindo da garagem e perguntou para onde o caminhão ia.
Como se pode notar, não há a reprodução da fala do personagem, como ocorreria no discurso direto.
Apesar de não haver exposição direta da fala do personagem, o conteúdo da mesma é precedido por um verbo de elocução (no exemplo dado, o verbo é “ ... perguntou”).
Pode-se perceber que o que ocorre no discurso indireto é apenas a transmissão do conteúdo do que o personagem falou, e não a transmissão da fala em si.
Discurso indireto livre
O discurso indireto livre
caracteriza-se pela integração das falas dos personagens ao discurso do
narrador.
Normalmente,
no discurso direto, a fala do personagem vem precedida de um travessão, logo
após um verbo de locução seguido de dois pontos.
Exemplo
(discurso direto):
Maria
cumprimentou:
- Como vai você?
No discurso indireto livre, a fala estaria embutida
na narração, como mostrado a seguir.
Maria precisou cumprimentar o sujeito. Como vai
você? Como foi o seu dia? E assim continuou com o que estava fazendo.
Como se pode ver, este tipo de discurso é uma
mistura dos discursos direto e indireto, visando a obtenção de um efeito
estilístico.
Narrador personagem
O narrador personagem é um personagem que narra o conto. E para narrar o conto, é necessário que este personagem seja o protagonista (personagem principal) do conto.
Apesar
da função de narrar o conto, este personagem ainda desempenha o papel de ser
atuante no conto. Assim ele interage com os outros personagens que estão
atuando no conto.
Por
uma questão de coerência, as informações que o narrador personagem passa ao
leitor estão limitadas à própria vivência no conto. O narrador personagem
não pode conhecer particularidades do conto além do que sua vivência
permite. Ele não pode conhecer o que se passa na mente dos outros personagens,
nem saber o que ainda vai acontecer (características do narrador onisciente).
A
narração do narrador personagem é feita em primeira pessoa (eu).
Narrador testemunha
O narrador testemunha é um personagem que presencia os acontecimentos do conto e os relata como observador.
Embora ele não seja o ser atuante principal do conto, este personagem interage com todos os acontecimentos do conto.
O que ele percebe do conto para revelar ao leitor é o que os seus sentidos e o seu intelecto são capazes de captar. O narrador testemunha pode fazer ponderações sobre os fatos, dentro do que a sua condição de personagem permite.
Em hipótese alguma o narrador personagem pode demonstrar saber exatamente o que se passa na mente dos outros personagens. Ele pode supor o que o personagem está pensando, mas nunca afirmá-lo categoricamente.
Contos de fadas
Uma característica que pode identificar prontamente um conto de fadas é a expressão introdutória “Era uma vez...”.
Estes contos geralmente abrangem algum tipo de mágica, transformação ou encanto. Embora tenham fadas como símbolo, estas histórias podem ter animais falantes e outras criaturas imaginárias como personagens.